Por FABIANA PANOBIANCO
Viemos em outubro. Escolhemos esta data, pois queríamos viver o que todos os europeus dizem ser o maior problema daqui, o inverno. E pensamos que se sobrevivêssemos à mudança, à distancia da família, ao abandono do nosso filho canino, ao abandono dos nossos filhos da equipe do Bar Brejas, ao abandono dos nossos amigos, da nossa casa, dos nossos portos seguros, sobreviveríamos a qualquer coisa.
De certa forma estávamos certos, pois a pior parte já passou. A chegada ao desconhecido, os primeiros meses com uma língua nova, a adaptação da dieta (porque se tem um país onde se come bem é na Itália, e quando digo bem, estou sendo até econômica, pois a qualidade e sabor dos alimentos oferecidos aqui são indescritíveis).
Escolhemos a região da Brianza, norte de Milão, por dois motivos: por uma possível oportunidade de parceria com um grande amigo italiano e dono de uma cervejaria, e por motivo de saúde, pois em Milão existe o maior hospital especializado em nosso problema e seria ali que enfrentaríamos uma cirurgia que precisava ser feita.
Alugamos um apartamento pelo site AIRBNB para os três primeiros meses. Escolhemos um belo apartamento, pois estávamos abrindo mão de muitas coisas, mas para isso desembolsamos 1.250 euros por mês de locação. Uma pequena fortuna, se comparado com os valores médios de aluguel por aqui.
Vista da nossa primeira casa na Itália, depois de uma nevasca de janeiro.
Fomos ao mercado para fazer a primeira compra e compramos de tudo, desde de papel higiênico, material de limpeza, carnes até vinhos e queijo Parmigiano-Reggiano. Para a nossa surpresa, o total gasto foi de 213 euros. E claro que veio a pergunta: com 213 reais, o que conseguiríamos comprar no Brasil? E detalhe, esta compra nos foi suficiente por dois meses! Claro que compramos saladas, frutas e frios neste período, mas nada que superasse 50 euros.
Primeira compra de supermercado: Olha a cara de surpresa com tanta coisa boa e barata!
Depois de abastecidos e organizados, fomos felizes com o nosso contrato de locação trimestral dar entrada em nossa residência e com isso poder requerer o acesso à saúde pública e o meu reconhecimento de cidadania. Tomamos então o nosso primeiro balde de agua fria. Pedido de residência apenas com contrato de locação de três meses? Nada feito! Só registravam contrato de um ano, no mínimo! Isso não está escrito em nenhuma lei italiana, mas por aqui, infelizmente, cada comune (prefeitura) entende a lei de uma forma, e você tem que seguir.
Desnorteados e sem saber o que fazer, resolvemos buscar um curso de italiano para facilitar nossa comunicação, pois tínhamos saído do Brasil com um Italiano nível básico. Mais uma vez fomos surpreendidos. Descobrimos um curso dado pelo governo para estrangeiros e pagamos apenas 20 euros para a inscrição, com o material didático e três aulas semanais. O pagamento não é mensal, apenas 20 euros e nada mais. E a qualidade das aulas nos surpreendeu mais uma vez! Em apenas dois meses passamos para o nível intermediário!
Com a língua italiana mais dominada, precisávamos resolver a questão da residência, pois o meu prazo de visto de turista estava acabando e, se não resolvesse, eu teria que voltar ao Brasil. Desesperados se sem rumo, procuramos um assessor, e ele ofereceu uma “residência” por 750 euros para cada um, ou seja pagaríamos 1.500 euros apenas para alguém dizer que morávamos ali!. Nessa altura do campeonato, estávamos dispostos a tudo para resolver o problema e conseguir dar entrada na minha cidadania e ter acesso à saúde publica, pois tínhamos uma cirurgia para encarar. Mas como tudo não são rosas, claro que esta outra possibilidade não deu certo e o segundo balde de água fria estava ali caindo em nossas cabeças. Se quiséssemos resolver com o apoio do assessor, agora custaria 4.000 euros!!! Isso mesmo 4.000 euros apenas para nos fornecer um endereço para solicitarmos a residência, pois o restante do processo já estava pronto, e como conseguíamos nos comunicar em italiano, poderíamos fazer o processo sozinhos.
Mais uma vez desesperados, fomos comer uma pizza na cervejaria do nosso amigo, o qual percebeu que havia algo errado com e gente. Ao perguntar, claro que a mulher e linguaruda da relação (eu) explicou o motivo. Ele então nos deu a maior dura, e perguntou porque não havíamos falado com ele antes, que se o problema era esse estava resolvido, pois ele nos concederia uma carta de hospitalidade, ou seja, um documento falando que nós éramos seus hospedes e com isso poderíamos solicitar a residência.
Alivio descreve o que sentimos naquele momento!